2014-02-24

63 - Mulheres
Andam esquecidas, as mulheres que nos viram partir, e ainda aquelas de que não quisemos ou conseguimos despedir-nos.
Às mulheres que se despediam no cais de Âlcantara e ficavam a acenar com lenços, até que o navio ultrapassava a linha do horizonte, chegaram a chamar-lhes carpideiras profissionais a soldo, e nós deixamos.
Perdemo-nos no tempo sedados pela adrenalina de pisar terrenos que nos podiam ser desfavoráveis ou de um jogo de cartas a dinheiro, ou ainda compartilhando com camaradas o sabor acre de uma cerveja; e tempo de saudades escritas sobre “bate estradas”, quantas vezes tocados por lágrimas furtivas.
Mas elas, terminados os afazeres da lide diária, algumas os filhos deitados, davam-se então conta de estar sozinhas e viviam o pior dos medos, o que se recria pela imaginação.
No regresso, estranhamos os cabelos brancos…

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