Às vezes, muitas vezes, dou comigo a
pensar se, a “juventude actual” conseguiria passar o que eu, e tantos como
eu, passei lá pelas “Áfricas” na chamada “guerra
colonial”.
E chego à conclusão que não,
definitivamente não!!!
Já me aconteceu estar frente à
televisão e dar comigo a ver a partida de alguns militares em “missão de
soberania” para alguns “palcos de guerra” (???) e pensar para comigo: - “e nós, como era” ?
Muito diferente, concerteza.
Metidos no”mato profundo”, sem qualquer tipo de comodidades, longe de mundo
civilizado, sem qualquer notícia do mundo dito civilizado, centenas de milhares
de jovens (20,
21, 22 anos) viviam o seu quotidiano, com uma
organização de causar inveja.
Direi, que, pessoalmente, e a título
de um mero exemplo, estive durante
meses, muitos meses, debaixo do sol tórrido africano, a viver em barracas de
lona, num descampado algures no Leste de Angola, num aquartelamento (???) onde tínhamos que (sobre)viver…
A única água existente no local era
uma grande poça, onde os animais selvagens bebiam, onde lavávamos a roupa e era
essa mesma água que, no final, nos servia também para cozinhar!!! No Leste
profundo – no Lunhamége!!!!
Banho, só “como os gatos”…
Durante mais de meio ano, dormi sempre
fardado, a farda era, por isso, o meu “pijama”.
Agora, quando partem, levam computadores
com internet, ar condicionado nas tendas (!!!), bons mantimentos (a nossa alimentação
chegava a ser surreal),
vão por períodos de 6 meses no máximo, e ganham ordenados chorudos...
Que diferenças, meus amigos, que
diferenças !!!
Pois, dir-me-ão - mas vocês foram
porquê ? Se tinham noção para onde iam, porque iam ?
Fomos, como se dizia na altura “voluntários à força”, e, salvo
raríssimas excepções, sem sequer saber a motivação da guerra.
Éramos, como também se dizia na altura
“carne para canhão”.
Mas nem tudo foi mau, podem crer.
O companheirismo, a amizade, a
entreajuda, ainda hoje, passados que são 40 anos, perduram inabaláveis, bem
como as (boas) recordações.
Rui Bacelar
Ex-Furriel da CART. 3540
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