2012-05-10

M11 - A um grande Amigo

"Meu grande sacana que partiste sem avisar"
Falavamos assim desbragadamente, sempre que não havia  ouvidos de terceiros que se atrevessem a  concluir que havia menos respeito.
Não vai voltar a acontecer. Um dos porventura,  mais simples e humilde dos nossos verdadeiros  amigos, deixou-nos em janeiro passado. Soube há algumas horas, através de uma mensagem do Fontes.
Conhecemos-te, como ser humano, exemplo de paciência, disponibilidade e joviabilidade; por vezes abusamos da tua quase ingenuidade.
Acima de tudo, acredito que a jornada de África, ajudou a caldear a tua  autenticidade, expressão última de um ser humano, em busca do justo equilibrio entre  qualidades  e  defeitos, e que, como afirmavas,  tentava cumprir
Depois de Angola, falamos pouquissinmas vezes
Talvez na primeira  que nos encontramos, louvei-te no cumprimento, a mão firme e calejada; disseste com orgulho que estavas a ajudar os teus velhotes, a fabricar a terra.
Com os anos a passar, fui sabendo de ti, nos encontros, em que foste sempre recordado com amizade e saudade
Um dia, confirmaram-me a grande opção da tua vida, a de não fugir de uma paixão. De um turbilhão, que se adivinhava, de emoções indomáveis e terrenas, das que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos e soluços. Opção segura e convicta, terá sido, companheiro.
Neste momento de grande mágoa, recordo ainda e mais uma vez, a noite de 6 de maio de 74, em que estivemos no Luando, quando da emboscada que, horas antes tinha ceifado a vida de 8 camaradas. Noite em que  voltamos a estar de acordo, em como a maior perda na vida, é o que deixamos  morrer  dentro de nós; noite avançada, e essa perda estava lá, teimando em instalar-se, e sem o dizer, tentamos fazer da resignação força.  
E, com outros camaradas, fomos afogando as mágoas, até de manhã.
As palavras nunca poderão exprimir completamente um pensamento, e desta vez tu, Domingos Cruz, és o culpado. Acredito.
Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada
(Fernando Pessoa)
(da esqª p/ a dirª) Valério, Torres, Azevedo, Gonçalves e Cruz

Azevedo

2 comentários:

  1. Era um bom homem. Paz à sua alma. Fontes

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  2. O Cruz encontreio-o umas duas vezes nos nossos almoços de convívio.
    No primeiro encontro da companhia estava com a esposa e com um menino e uma menina, creio.
    Foi aí que tive conhecimento que tinha casado.

    Da outra vêz creio que foi em Guimarães.
    Admirei nele a postura muito simples e anónima que teve quando assistiamos à missa.
    Pensei eu: antes estavas ali na zona de celebração, agora está aqui misturado com a assembleia, mas continuas a ser o mesmo HOMEM.

    CRUZ!!! Enquanto eu cá andar continuas a viver ... em mim, assim acontecerá em cada um de nós.

    Até já.

    jose ferreira

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